Expedição: Dia três. Playa Mansa; Punta Ballena.
No terceiro dia da nossa jornada pelo Uruguai, seguimos em direção à icônica península de Punta del Este — um destino conhecido mundialmente por sua vida noturna agitada, gastronomia refinada e paisagens deslumbrantes. Ainda que ostente uma atmosfera cosmopolita, a região surpreende por oferecer equilíbrio: entre a vibração urbana e o sossego à beira-mar, entre valorização da arquitetura e preservação da natureza.
À oeste da península está a Playa Mansa, Enquanto a Brava é marcada pelo agito das ondas e do surfe, a Mansa acolhe famílias, casais e aqueles que buscam um refúgio mais tranquilo, onde o mar calmo convida para a prática de esportes como stand-up paddle, natação e vela. A Praia Mansa tem uma atmosfera que convida ao descanso, mas sem abrir mão de estrutura: cafés, restaurantes e paradores à beira da Baía de Maldonado, como o Virazón, o Posto 5 e o sofisticado Imarangatú, oferecem experiências gastronômicas à altura da paisagem.

A arquitetura ao redor da Mansa traduz bem esse estilo de vida equilibrado. A região mescla edifícios contemporâneos com referências mais clássicas, e como é comum no litoral uruguaio, observa-se uma forte preocupação em integrar o projeto arquitetônico ao ambiente natural. Recuos generosos, jardins cuidadosamente planejados e fachadas que dialogam com o entorno fazem parte do cenário. É nessa região também que se destaca o resort e cassino Enjoy — anteriormente conhecido como Conrad —, cuja arquitetura curva e imponente tornou–se uma assinatura da paisagem local. Inaugurado em 1997, o empreendimento foi decisivo para o desenvolvimento econômico e turístico de Punta del Este, e segue como um marco na memória afetiva de quem visita a cidade.

A poucos minutos dali, na região do porto e da marina, a sofisticação náutica ganha forma. O desenho arquitetônico das construções é moderno e funcional, com uso expressivo de vidro e aço, permitindo amplas aberturas e vistas deslumbrantes para a Isla Gorriti — cenário privilegiado para um pôr do sol inesquecível. A marina representa a intersecção perfeita entre luxo, lazer e arquitetura de frente para o mar.
Encerramos o terceiro dia da expedição na charmosa Punta Ballena, a cerca de 15 km da península, onde a natureza e a arte se fundem de maneira única. As falésias dramáticas esculpidas pelo vento e pelo tempo são o cenário ideal para contemplar o Rio da Prata. Foi ali que o artista Carlos Páez Vilaró construiu sua obra mais emblemática: o Museo Casa Pueblo. Com formas orgânicas, curvas brancas e volumes que parecem nascer da própria pedra, a construção é ao mesmo tempo casa, galeria, escultura e manifesto artístico. A Casa Pueblo não apenas abriga arte — ela é arte.
A casa e suas formas incomuns foram eternizadas no poema musicalizado “A casa”, de Vinicius de Moraes, transformado em música, que eternizou o local: “Era uma casa muito engraçada / não tinha teto, não tinha nada...”. Amigo íntimo de Vilaró, Vinicius era presença frequente no local e costumava comentar que, a cada visita, encontrava um novo detalhe adicionado à construção pelas mãos incansáveis do artista. Assistir ao pôr do sol dali é um momento que transcende a paisagem — é sentir o tempo parar diante de uma arquitetura que se dissolve no horizonte.