Em Stuttgart, na Alemanha, a biblioteca estadual (Stadtbibliothek) está localizada na praça Mailänder, um espaço aberto onde, além de um enorme espelho d’água com o qual as crianças podem interagir manipulando a direção das saídas de água, há um balanço e algumas fileiras de bancos para os pais poderem repousar e conviver enquanto os pequenos brincam. Há um shopping do outro lado da praça. No horário do almoço, funcionários sentam-se ao sol, quando há, e respiram o ar puro. No meio da praça há uma escultura alinhada à proposta da biblioteca: uma pessoa sentada, segurando o que parece ser um livro. Na parede externa da biblioteca, encontra-se uma tabela de basquete. É uma tabela discreta, mas está lá, aberta e convidativa para quem quiser arremessar uma bola.
Esses elementos da praça Mailänder são exemplos do que se conhece como gentileza urbana, e podem existir em ambientes públicos e privados, nas ruas da cidade e nos espaços mais reservados dos condomínios. A arquiteta Camila Thiesen, da Metropolitano Arquitetos, explica a gentileza urbana como “ações, intervenções e comportamentos que buscam promover uma maior qualidade de vida nas cidades, garantindo o bem-estar e a convivência entre as pessoas e delas com o ambiente em volta”. Para ela, essas ações são importantes porque tornam o ambiente urbano mais “acolhedor, acessível e seguro” e contribuem para “a humanização dos espaços públicos”. Um dos resultados, Camila destaca, é a promoção do sentimento “de pertencimento e bem-estar entre os cidadãos”.
Para o arquiteto Guilherme Silva, da OSPA, um projeto arquitetônico que leva em consideração a gentileza urbana oferece algo de precioso ao espaço urbano, pois cria o “sentimento de pertencimento e de comunidade entre os prédios vizinhos”. Uma edificação privada pode, por exemplo, pensar as suas fachadas e a sua relação com o bairro. Guilherme ressalta que “um bom projeto arquitetônico deve ser atento e sensível ao seu entorno”, ou seja, deve levar em conta os vizinhos, o caráter do bairro e sua relação com o edifício. O arquiteto enumera alguns exemplos de gentiliza urbana, como fachadas ativas, ausência de grades, janelas e áreas comuns abertas à rua, bancos e também um paisagismo que contemple a possibilidade de que os pedestres façam uso dele a partir dos espaços externos. Essas são, em suas palavras, “ações gentis para com os cidadãos que passam pelo prédio” que criam “comunidades mais conectadas e seguras”.
Camila Thiesen atenta para o fato de que a prática da gentileza urbana nos projetos arquitetônicos conduz a uma valorização imobiliária. Ela argumenta que “o edifício que é generoso com a cidade melhora a experiência de quem caminha em frente a ele” e promove a “vitalidade urbana”. A consequência natural de uma boa relação entre as edificações e os espaços urbanos que promovem a interação, a segurança e o senso de comunidade é a valorização das redondezas onde a prática da gentileza urbana predomina.
Na Colla Construções, há uma cultura já estabelecida de criar conexões entre as áreas térreas e as ruas, como reforça a arquiteta Camila, que assina o projeto das áreas condominiais do empreendimento LORD e integra a equipe de projetistas do futuro lançamento da Colla, o Quintino. Isso inclui pensar espaços abertos, de paisagismo rico, e projetar transições agradáveis entre os ambientes públicos e privados de forma a beneficiar moradores, quando for o caso, e também pedestres, cujas interações com o espaço se dão por meio da fachada.
A ideia também envolve levar a gentileza urbana que existe fora, para dentro. Guilherme Silva explica que no projeto do futuro lançamento da Colla Construções na Rua Auxiliadora, trabalhou-se com um recuo de jardim sem grades com um paisagismo exuberante e um banco voltado para a rua e, no segundo andar do prédio, as áreas condominiais estão voltadas para a rua. Nos dois casos, privilegiou-se a relação entre o interior e o exterior. Ainda que “recuadas do plano da calçada, os moradores ainda conseguem aproveitar as vistas da rua e sua arborização”, frisa Guilherme. A OSPA também assina o projeto de interiores do empreendimento Faria Santos e os de paisagismo e interiores do VIDA.
Na arquitetura, o exercício da gentileza urbana é um de escuta: a necessidade do morador, do pedestre, da criança, da mãe e do pai que empurram o carrinho do bebê, e também da pessoa que precisa de acessibilidade, todas são importantes nessa equação, e todos usufruem das estruturas criadas a partir desse norte. Em espaços públicos ou privados, a gentileza urbana parece figurar como caminho sem volta. A partir do momento em que os projetos arquitetônicos priorizam tanto a forma quanto a boa relação entre os espaços e as pessoas que usufruem dele, um novo padrão de fazer arquitetura é colocado como patamar mínimo de um empreendimento.