Brasilidade: tropical e bonita por natureza
16/07/2021
Burle Marx paisagismo

O modernismo surgiu como uma adequação dos elementos tradicionais das artes à sua época, substituindo, na pintura, o ateliê pelos espaços abertos, valorizando a espontaneidade do traço para expor a impressão do artista e exaltando as máquinas e o avanço tecnológico surgidos a partir do final do século XIX. A vertente brasileira fez o país olhar para si mesmo e, a partir da incorporação das tendências europeias da época, criar uma linguagem própria que manifestasse uma identidade nacional.

Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida (obra Lucio Costa) e Palácio do Planalto (obra Oscar Niemeyer), em Brasília.

Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida (obra Lucio Costa) e Palácio do Planalto (obra Oscar Niemeyer), em Brasília.

Como definida em manifesto por Oswald de Andrade, esta “antropofagia” deu origem a um dos períodos mais férteis da produção cultural brasileira, a partir de nomes como Villa Lobos na música, Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade na literatura, Carybé, Di Cavalcanti e Portinari na pintura, dentre tantos em tantas vertentes. Na arquitetura, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Attilio Correa Lima foram alguns dos que elevaram a escola brasileira ao patamar de uma das principais e mais inovadoras do mundo.

Estação de Hidroaviões (obra de Attilio Corrêa Lima) e Museu de Arte Moderna do RJ (obra de Affonso Eduardo Reidy).

Estação de Hidroaviões (obra de Attilio Corrêa Lima) / © G. E. Kidder Smith. Via Goodwin, 1943.
E Museu de Arte Moderna do RJ (obra de Affonso Eduardo Reidy) / Fonte: archdaily

Na valorização da brasilidade, a beleza natural e a iluminação abundante dos trópicos teriam protagonismo. Novos materiais e tecnologias que chegavam à construção civil simultaneamente com os valores modernistas possibilitaram o surgimento de ambientes maiores, com estruturas que se sustentavam sem paredes. Estas desapareciam ou davam lugar a cortinas de vidro, ampliando espaços e integrando interior e exterior.

A arquitetura contemporânea incorpora elementos do brutalismo, caracterizado por uma estética monumental, em que grandes blocos, rampas e lajes se destacam em tijolos e concreto aparentes. A vertente paulista do movimento valeu-se desses componentes para romper barreiras entre interior e exterior. Desta forma, jardins entram nas residências. Não nos moldes dos jardins de inverno europeus, mas com a vistosa flora nativa, seguindo a concepção do paisagista, arquiteto e artista plástico Roberto Burle Marx que, desde a visita ao Jardim Botânico de Dahlem, deu protagonismo à mata brasileira como elemento estético desde os primeiros trabalhos com Lúcio Costa até o final de sua vida.

Obra de Roberto Burle Marx e seu ateliê no Rio Claus Meyer/Tyba.

Obra de Roberto Burle Marx e seu ateliê no Rio Claus Meyer/Tyba/ Fonte: Editora Abril

A combinação desses elementos nos novos projetos da Colla Construções leva a concepção dos interiores a valorizar as características externas dos edifícios, seja em suas intenções ou usos. Valorizado pela vegetação que parte da fachada, o concreto ingressa nos interiores, reforçando a temática tropical na qual a brasilidade é o conceito principal. Nessa linha, que também se vale do mobiliário brasileiro, o paisagismo integra ambientes, confundindo a percepção entre interior e exterior. Os projetos, assim, se traduzem através da integração. Integração entre os ambientes, entre o interno e o externo, entre a arquitetura e a natureza.

 Natália Zaffari | OSPA Design Architect